
91º Diálogos de Bioética discute a importância ética do quesito raça/cor no cuidado em saúde
11 —Encontro promovido pela Fundação José Luiz Setúbal (FJLS) e organizado pelo Instituto Pensi reuniu especialistas do grupo Race.ID para refletir sobre a bioética e o enfrentamento do racismo na saúde pública.
O 91º Diálogos de Bioética da Fundação José Luiz Setúbal ocorreu no dia 29 de outubro, no Auditório do Centro de Treinamento Sabará (CTS), e teve como tema central “A importância ética do quesito raça/cor para o cuidado em saúde da população negra”.
A abertura foi conduzida pelo Dr. José Luiz Setúbal, presidente da FJLS, e a moderação ficou a cargo de Adriano Bechara e João Cortese, coordenadores do Núcleo de Bioética da Fundação.
Reflexão sobre ética, equidade e racismo institucional
O evento contou com a presença de três palestrantes do grupo de pesquisa Race.ID (FMUSP/HCFMUSP):
Stephanie Marinho, doutoranda do programa MD/PhD em Ciências Médicas do HCFMUSP e integrante do coletivo negro Núcleo Ayé;
Marília Ribeiro de Azevedo Aguiar, coordenadora médica da Transição de Cuidados do Instituto Perdizes (HCFMUSP) e mestranda em Saúde Coletiva na FMUSP;
Maurício Ortiz, psicólogo com atuação em saúde pública, relações raciais e políticas de cuidado no SUS e integrante do Núcleo Antirracista Virgínia Leone Bicudo e do Movimento Cuidar de Quem Cuida.
Os palestrantes abordaram o papel ético e político do quesito raça/cor na atenção à saúde, destacando que a coleta dessa informação é essencial para garantir a equidade e o enfrentamento das desigualdades raciais. A discussão teve como base o Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/2010) e a Portaria nº 344/2017, que torna obrigatória a autodeclaração racial nos formulários de atendimento do SUS.
Além da legislação, o grupo trouxe evidências científicas que revelam como o racismo afeta diretamente a comunicação médico-paciente, o acesso ao cuidado e até os resultados clínicos. Estudos apontam que pacientes negros enfrentam piores experiências de diálogo e menos participação nas decisões sobre seus tratamentos, enquanto a concordância racial entre médico e paciente está associada a melhores desfechos, como a redução da mortalidade neonatal.
A partir dos quatro princípios da bioética (autonomia, justiça, não maleficência e beneficência), os convidados reforçaram que a ética do cuidado precisa reconhecer as dimensões estruturais do racismo para promover uma prática realmente humanizada. Casos reais e análises clínicas foram apresentados para ilustrar como preconceitos sutis ainda comprometem a confiança e a segurança dos pacientes.
Um convite à transformação no cuidado em saúde
Encerrando o encontro, os palestrantes destacaram que o compromisso com a equidade racial na saúde deve envolver também o bem-estar dos próprios profissionais da área. Reconhecer e combater o racismo institucional é um passo essencial para fortalecer o SUS e garantir um cuidado digno e ético para todos.
O 91º Diálogos de Bioética reforçou o papel da bioética como ferramenta de transformação social, incentivando profissionais e gestores a refletirem sobre suas práticas e a construírem espaços de cuidado mais inclusivos, conscientes e justos.
