
Pensi abre caminho para formar neuropediatras de excelência
100 —Programa aprovado para 2026 mira lacunas nacionais e alia clínica, pesquisa e apoio internacional aos residentes. Chefe do departamento de Ensino do Instituto Pensi, Ana Luiza Navas detalha o que motivou o lançamento do programa e quais benefícios aguardam os residentes
A neurologia pediátrica vive um momento desafiador no Brasil: a demanda cresce velozmente, mas a oferta de especialistas não acompanha o ritmo. Além de haver poucos especialistas em neuropediatria no país, há grandes assimetrias de distribuição regional. Dados citados pela chefe do departamento de Ensino do Instituto Pensi, Ana Luiza Navas, mostram que inúmeros municípios nem sequer contam com um neuropediatra, obrigando famílias a viagens longas ou à espera prolongada em filas do SUS. De acordo com o relatório Demografia Médica no Brasil 2025, dos 47.787 indivíduos com título de especialista em pediatria, somente 0,15% têm também o título de especialista em neurologia.
Diante desse gargalo, o Instituto Pensi e o Sabará Hospital Infantil decidiram transformar seis anos de experiência em residência pediátrica em uma nova frente: o Programa de Residência Médica em Neurologia Pediátrica (PRM‑NP), aprovado em 2025 e com a primeira turma prevista para 2026. A proposta é formar médicos capazes de diagnosticar com precisão, acompanhar o desenvolvimento infantil e dialogar com equipes multiprofissionais.
O desenho do PRM‑NP reflete a filosofia da casa. Além da imersão clínica em casos complexos do Sabará, os residentes terão estágios externos em instituições parceiras. Há um estímulo constante para participação em projetos de pesquisa em saúde para a elaboração do trabalho de conclusão do curso (TCC). Caso haja interesse, há a possibilidade de contato com projetos de pesquisa em Ciências Sociais ligadas à saúde e com as atividades de projetos sociais e advocacy do Infinis.
Tudo isso amparado por incentivos concretos: bolsa para estágio optativo internacional, auxílio‑moradia, participação em eventos científicos e um ambiente de “superconforto”, que privilegia o aprendizado.
O cronograma é apertado. A prova geral de seleção ocorre em janeiro de 2025, junto com a dos demais programas de residência médica da instituição. Até 2026, a equipe de ensino formaliza parcerias específicas e ajusta os cenários de prática para garantir que, no primeiro dia de atividade, cada residente saiba onde ficará, quem o orientará e quais competências deverá desenvolver.
Na entrevista a seguir, Ana Luiza Navas explica como o PRM‑NP se articula à missão da Fundação José Luiz Setúbal (FJLS), quais indicadores medirão o sucesso do curso e por que formar neuropediatras qualificados pode influenciar, em dez anos, a formulação e o aperfeiçoamento de políticas públicas para a infância.
Notícias da Saúde Infantil — Quais gargalos a senhora enxerga hoje na formação de neuropediatras no Brasil e como eles afetam o cuidado infantil?
Ana Luiza Navas — A demanda é enorme e desigual. Há municípios sem nenhum especialista; outros, o neuropediatra visita uma vez por semana e atende apenas casos gravíssimos. Quando é um profissional que se formou em neurologia geral — voltada ao adulto ou ao envelhecimento —, ele não domina as nuances do desenvolvimento infantil. Isso gera diagnósticos tardios, tratamentos incompletos e filas intermináveis tanto no SUS quanto na rede privada.
Notícias da Saúde Infantil — Por que o Pensi decidiu assumir esse desafio agora, após consolidar outros programas de residência?
Ana Luiza Navas — Nosso cotidiano é a infância. Começamos com pediatria geral e medicina intensiva pediátrica, avançando para anestesiologia e emergência e, naturalmente, chegamos à neuropediatria. Já temos estrutura acadêmica, preceptores experientes e um hospital que lida com complexidade neurológica infantil todos os dias. A evolução lógica era dedicar um programa a essa carência nacional.
Notícias da Saúde Infantil — Como a experiência acumulada pelo Sabará contribuiu para a aprovação do PRM‑NP?
Ana Luiza Navas — Ser um hospital privado, ágil e focado na criança facilita adaptações rápidas. Aprendemos a atualizar protocolos, incluir pesquisa na rotina e acompanhar cada residente de perto. Essa bagagem foi decisiva para cumprir as exigências da Comissão Nacional de Residência Médica e conquistar a chancela para abrir vagas em 2026.
“A formação do neuropediatra é que vai qualificar mesmo essas ações, não diagnosticar de mais nem de menos.”
Notícias da Saúde Infantil — Quais incentivos — como bolsa internacional, auxílio‑moradia e apoio à pesquisa — a senhora considera mais decisivos para atrair e reter talentos?
Ana Luiza Navas — Todos contam, mas dois se destacam. Além da bolsa para o estágio optativo fora do país, a rede de contatos na área escolhida amplia horizontes e reforça a troca de experiências; o suporte científico interno fortalece a prática baseada em evidências. Quando o residente percebe que pode estudar, envolvendo-se em pesquisas relevantes, ele permanece engajado.
Notícias da Saúde Infantil — De que modo o Pensi garante que esses benefícios se traduzam em formação e não apenas em mão de obra?
Ana Luiza Navas — Mantemos poucas vagas para oferecer acompanhamento individual. O residente não está ali para suprir uma carência do serviço. Trata-se de um processo de formação na prática, em que ele recebe orientações mas também contribui para o desenvolvimento daquele setor por onde passa. Participa de aulas teóricas, discute artigos, elabora projetos e apresenta casos em congressos, como relatado no perfil da residente Paola Romani Suhet nesta edição. Essa engrenagem dá sentido ao investimento financeiro.
“Eles têm a oportunidade de vivenciar clínica, investigação e o social — isso é único.”
Notícias da Saúde Infantil — Quais elementos compõem esse “superconforto”, citado pelo dr. José Luiz, e como eles impactam a aprendizagem?
Ana Luiza Navas — Conforto, aqui, é a ambiência que favorece o raciocínio clínico. Falamos de plantões em salas equipadas, acesso imediato a neuroimagens de alta resolução, biblioteca digital completa, preceptor disponível, além de iniciativas de bem‑estar. Tudo isso reduz a fadiga desnecessária e libera energia cognitiva para estudar e cuidar melhor dos pacientes.
Notícias da Saúde Infantil — Como o novo curso se articula com a pesquisa translacional em neurodesenvolvimento já conduzida no Pensi?
Ana Luiza Navas — Os residentes frequentam seminários de projetos, podem se integrar a estudos e até ser tutores de graduandos. Essa circulação constante entre o leito e a pesquisa acelera a adoção de evidências.
“Em alguns anos, esses residentes poderão contribuir para políticas públicas nessa área.”
Notícias da Saúde Infantil — Quais indicadores o conselho da FJLS usa para medir sucesso, além de histórias individuais, como a de Paola?
Ana Luiza Navas — Dois eixos orientam a avaliação. O primeiro é a retenção: quantos egressos o Sabará contrata para sua expansão. O segundo acompanha quem parte para outras regiões e implanta serviços de neuropediatria de qualidade. Monitoramos esses trajetos e cruzamos com aprovações em provas de título para ter um retrato objetivo.
Notícias da Saúde Infantil — Que desafios logísticos precisam ser vencidos até a prova geral de janeiro de 2025 e a abertura das vagas em 2026?
Ana Luiza Navas — Após a aprovação oficial, temos de formalizar estágios externos, alinhar agendas de preceptores especialistas, definir cronogramas semanais e divulgar amplamente o edital. Felizmente, já operamos outros programas; o modelo está pronto. Resta acomodar as especificidades da neuropediatria e garantir que tudo esteja claro ao candidato.
Notícias da Saúde Infantil — Olhando para os próximos dez anos, que papel a senhora espera que os egressos do PRM‑NP desempenhem na saúde infantil brasileira?
Ana Luiza Navas — Vejo esses futuros especialistas assumindo posições de liderança clínica e acadêmica, participando da definição de diretrizes nacionais de neurodesenvolvimento e organizando redes regionais de cuidado. Cada neuropediatra formado aqui multiplica o alcance da missão da Fundação José Luiz Setúbal: oferecer uma infância mais saudável, na qual diagnósticos precisos e terapias adequadas sejam a regra, não a exceção.
Notícias da Saúde Infantil — Que impacto a senhora espera ver no SUS quando os primeiros egressos estiverem em atividade?
Ana Luiza Navas — Um bom neuropediatra muda o destino de uma criança e alivia a ansiedade das famílias. Se parte deles ocupar hospitais públicos e polos de referência, veremos diagnósticos mais precisos, uso racional de medicamentos e redução de encaminhamentos tardios. Isso reverbera em toda a rede de atenção básica.
Notícias da Saúde Infantil — Qual mensagem final deixa aos médicos que cogitam prestar o exame de seleção?
Ana Luiza Navas — Conheçam o hospital, vejam como clínica, pesquisa e projetos sociais convivem. O PRM‑NP oferece formação cuidadosa, centrada na criança, com estágio no que considero o melhor hospital infantil do Brasil. Quem busca excelência e propósito encontrará aqui um ambiente fértil.
Por Rede Galápagos
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